EFICIÊNCIA E SEGURANÇA EM SEU APRENDIZADO
Ninguém Bate os Brasileiros em Futebol
Além de serem os melhores do mundo, os brasileiros têm as técnicas de jogo mais efetivas e avançadas. Todos querem aprendê-las. Por isso, no mundo inteiro, milhares de jogadores, preparadores e técnicos brasileiros ensinam futebol. Nem todos os povos têm a sorte de poder dedicar seu talento ao esporte e à paz. Israel, por exemplo, não conhece a paz há mais de meio século. A guerra não respeita fronteiras nem faz diferença entre combatentes e civis. Esse fato trágico – a contínua ameaça contra civis – obrigou as forças de segurança israelenses a desenvolver as mais efetivas e avançadas técnicas de defesa do mundo. Não é motivo de orgulho. Ao contrário, é uma triste realidade. Se pudessem escolher, os israelenses prefeririam deixar a guerra e tentar melhorar em outras coisas, como, por exemplo, o futebol. Até que estão tentando: há jogadores brasileiros ensinando futebol em Israel. Cada um ensina o que conhece. Assim como brasileiros ensinam futebol, os israelenses ensinam técnicas de combate e segurança em todo o mundo.
Ninguém Nasce Sabendo
No começo os israelenses só sabiam o que haviam aprendido com especialistas europeus e americanos. Mas após meio século de duríssima experiência – à custa de muitas vidas – foram descobrindo erros e deficiências nos métodos existentes. Para sobreviver, tiveram de inventar novas técnicas e estender as regras de defesa e segurança a todos os aspectos da vida. Gradualmente, essas regras e técnicas cresceram tanto que as autoridades de Israel desenvolveram uma completa doutrina de segurança, utilizada na formação dos melhores agentes operacionais e dos mais eficientes instrutores.
O Conceito de Defesa e Segurança
Em que consistem os métodos israelenses de defesa e segurança? Seria difícil responder completamente. Segurança, como se sabe, é matéria muito vasta. No nível mais alto, compreende a segurança nacional como um todo. Descendo a escala, temos a segurança das fronteiras, do espaço aéreo, das instalações estratégicas, dos sistemas de transporte, das cidades, das vias públicas, dos sistemas de comunicações, da normalidade pública ante constantes ataques terroristas, etc. É uma lista imensa de tópicos. Para cada um deles, os israelenses desenvolveram filosofias e técnicas específicas. Mas o objetivo deste folheto não é falar de coisas que só dizem respeito a políticas governamentais. Nosso assunto é mais simples. É auto-defesa individual. Toda a filosofia de segurança começa com a auto-defesa individual, ou seja, com o máximo desenvolvimento da capacidade de cada pessoa para enfrentar agressões e assaltos. Pode-se dizer que a peculiaridade do sistema israelense é a prioridade do fator humano sobre os demais elementos tais como equipamentos, armas avançadas, alta tecnologia e organização. O fator humano representaria, se fosse possível estabelecer uma porcentagem, 80% de tudo. Que significa essa porcentagem? Que os israelenses dão menos valor aos demais fatores? Não. Significa que os israelenses dão o mesmo valor aos outros fatores, mas proporcionalmente valorizam muito mais o humano, não só no sentido de sua instrução e capacitação, mas também nas exigências quanto ao seu desempenho.
O Indivíduo é a Base De Tudo
Quando se fala em fator humano, fala-se em equipe. Tem de ser assim porque as forças de segurança operam como equipes. Isso é elementar. Mas em Israel a formação da equipe é considerada como resultado da formação do indivíduo. Toda a instrução começa pelo indivíduo e só se estende ao trabalho em equipe quando cada indivíduo está plenamente capacitado. Lá não existe a hipótese de formar o indivíduo dentro da equipe, mas somente a de formar a equipe através da formação do indivíduo. Isso se deve à natureza das forças armadas de Israel. Devido ao pequeno território e à superioridade de seus inimigos, Israel não pode se dar ao luxo de perder batalhas. Os confrontos são rápidos e decisivos. Não há tempo para nada. As emergências das frentes de combate têm de ser resolvidas na hora e no local. Por isso as unidades das forças armadas israelenses operam com grande autonomia e iniciativa, qualidades que só se obtêm mediante ênfase no treinamento do indivíduo. Esse fato dá características únicas às forças de defesa de Israel. Uma delas, frequentemente observada por estrangeiros, é o aparente desleixo. Os israelenses não são muito arrumados nem disciplinados. Os regulamentos, especialmente os de continência, são mal observados. A tropa raramente desfila em paradas, nem é das melhores em ordem-unida. Esse é o lado deficiente. O lado bom é a extrema mobilidade, a capacidade de improvisação e a iniciativa nas mais duras condições. Entre vantagens e desvantagens, o saldo é positivo. As forças armadas israelenses têm demonstrado na prática a sua capacidade de combate. Mas a eficácia das forças israelenses não deve fazer delas modelo universal. O soldado israelense luta pela sobrevivência imediata de seu povo e de sua família. Esse fato permite que o comando confie no senso de responsabilidade de cada soldado e libere a sua iniciativa, às vezes em prejuízo da hierarquia e da disciplina. Aplicados a outros países, tais métodos poderiam ser utópicos e prejudiciais. Em países onde o exército tem papel educativo e o serviço militar tem o objetivo de, além de preparar soldados, formar cidadãos, a rígida disciplina e o absoluto respeito à hierarquia são essenciais. Cada país tem suas peculiaridades. Por isso, Israel não tem a pretensão de estabelecer parâmetros. Mas não há dúvida de que os métodos israelenses são excelentes quando se trata de formar unidades de elite em qualquer lugar do mundo. A razão é óbvia: nessas unidades a motivação e a consciência dos voluntários são elevadas, o que permite mais iniciativa e autonomia do indivíduo dentro da equipe. Como dissemos, tudo se baseia no indivíduo. Não adianta ter as melhores armas e a mais avançada tecnologia sem que o indivíduo esteja capacitado ao máximo. Uma pessoa bem treinada pode se defender com qualquer meio. Armas moderníssimas nas mãos de pessoas despreparadas, por outro lado, são perigosas e podem causar mais mal que bem. Se isso é verdade na guerra convencional, muito mais o é no caso da guerra informal, a que se trava em qualquer lugar e a qualquer hora contra criminosos e terroristas.
É Possível Vencer o Crime no Brasil?
Como no Brasil não há guerra convencional ou terrorismo (graças a Deus!), o maior problema dos brasileiros é o do confronto com criminosos. Há dois tipos de pessoas que enfrentam criminosos: os defensores da lei – policiais e militares – e os cidadãos comuns. Os primeiros agem por dever de ofício; os segundos apenas reagem. Mas em ambos os casos o problema é semelhante: usar efetivamente uma arma de fogo. No recente referendo sobre o comércio de armas no Brasil, a grande questão era decidir se os criminosos podem ou não ser enfrentados. Os defensores da proibição acham que é impossível defender-se de criminosos. Para eles, as armas são um mal absoluto. O povo, porém, respondeu que o direito do cidadão de ter armas deve ser mantido. Isso quer dizer que a maioria dos brasileiros acha é possível defender-se de criminosos, ou pelo menos tornar a vida deles muito mais difícil. Essa parece ser, também, a opinião da maioria dos policiais e militares brasileiros. Logo, os dois grupos de pessoas que podem vir a confrontar-se com criminosos armados – os defensores da Lei e os cidadãos de bem – pensam do mesmo modo e jogam no mesmo time.
Como Israel Prepara suas Forças de Segurança
O método Bitahon de defesa e segurança é voltado para essas duas categorias: defensores da Lei e cidadãos. Em Israel a segurança não é assunto exclusivo das autoridades. Todos devem participar. Por isso os métodos de instrução israelenses, desenvolvidos para preparar pessoal especializado – policiais, militares, agentes de segurança – são facilmente extensivos a quaisquer pessoas.
A Pistola é a Arma Fundamental
A base do método israelense é o tiro tático com pistola semi-automática. Esse é o ABC da defesa e da segurança individual. Todo o resto – uso de armas automáticas, espingardas ou fuzis, direção tática de veículos, arrombamentos, transposição de obstáculos, combate em ambientes confinados, resgate de reféns, proteção de pessoas, artes marciais e todo o grande arsenal de técnicas avançadas, tudo depende do pleno domínio desse ABC. Quem não conhece bem o manejo da pistola está gravemente prejudicado em todo o resto. No entanto, a pistola é arma menosprezada em muitos países. Alguns a consideram como mero símbolo de autoridade para sargentos e oficiais. Outros pensam que ela é arma de último recurso, a ser usada somente em emergências, quando tudo mais acabou ou deixou de funcionar. Em Israel também se pensava assim. Com o tempo, porém, os israelenses concluíram que a pistola é a mais eficiente das armas para combates a curta distância. Isso é importante em Israel, devido aos ataques de terroristas, e no Brasil, onde o maior problema são os bandidos. Em ambos os casos a pistola é a arma mais efetiva porque é a única que pode ser escondida. Uma arma visível é a pior coisa em ataques de terroristas e bandidos. Por que? É simples. Bandidos e terroristas não anunciam seus assaltos. Procuram sempre aproximar-se das vítimas sem ser notados, e só quando chegam muito perto sacam suas armas ou mostram suas intenções. Se as vítimas ou os defensores da lei portarem armas visíveis – fuzis ou metralhadoras – serão facilmente identificados, e transformar-se-ão em alvos fáceis para os atacantes. Esse é um princípio fundamental: quem exibe uma arma se transforma automaticamente em alvo. O indivíduo que mostra a arma sem saber se ou quando vai ser atacado está sempre em desvantagem. Essa é a razão pela qual a pistola é a mais eficaz das armas nessas situações. Os agressores ficam em desvantagem, pois atacam sem saber se o outro lado está armado. Dessa forma, o jogo se inverte: eles é que se transformam em alvos. A pistola só perde para o fuzil ou para a metralhadora na guerra convencional, em que os combates geralmente se dão a distâncias maiores e a identificação do combatente, longe de ser prejudicial, é essencial para a condução das operações. Em todos os demais casos, a pistola é a rainha das armas. Como seu manejo exige reações rápidas e precisas, o treinamento com pistola passou também a ter importante papel educativo. Os efeitos do uso da pistola são tão importantes que seu manejo passou a ser o principal elemento na educação do soldado, do agente de segurança e do civil armado. Que Educação é essa
Tiro consciente, tiro instintivo, tiro reflexo
A instrução de tiro em Israel é voltada para a eficácia na vida real. A ênfase é no denominado tiro instintivo. Essa expressão – tiro instintivo – dá idéia de coisa feita sem pensar. Muitos pensam que “bom” é o tiro caprichado, com pontaria preparada, o tiro consciente. Segundo estes, é aconselhável atirar “bem”; mas, não havendo condições de atirar “bem”, então o remédio é apelar para o tiro improvisado, dado de qualquer jeito, sem pensar, sujeito a erro. Essa é, para muitos, a noção de tiro instintivo: algo inferior, de má qualidade, que só se usa em situações excepcionais. Esse modo de pensar é compreensível. Quase tudo na vida obedece a essa regra: coisas feitas “a olho”, às pressas, geralmente são de má qualidade; coisas feitas de modo pensado, planejado, cuidadoso, costumam ser melhores. Mas a regra não se aplica ao caso do tiro. O chamado tiro instintivo não é, de modo nenhum, improvisado ou de qualidade inferior. Ao contrário, é mais preciso e efetivo que o tiro consciente! Por que?
Um Pouco de Psicologia
Antes de responder, vamos esclarecer uma coisa. O denominado tiro instintivo não é instinto. Na verdade, não passa de um conjunto de reflexos. Em psicologia há uma diferença entre instinto e reflexo. Ambos os termos designam coisa que se faz sem pensar. Mas instinto é algo que nasce com a pessoa; reflexo é coisa aprendida. Logo, o nome tiro instintivo não é cientificamente exato. Não há instinto de tiro no ser humano porque ninguém nasce com armas de fogo. Mas sem dúvida existe uma outra característica: a habilidade natural das pessoas de, sem pensar, calcular direções e distâncias de objetos, e de alcançar ou atingir esses objetos com precisão. Essa habilidade existia nos antepassados do ser humano, que usavam armas de arremesso – pedras, paus e dardos – para caçar e defender-se. Não vamos discutir se essa habilidade é instinto ou não. Isso seria assunto para psicólogos. O que interessa é que ela existe e pode ser desenvolvida com grandes possibilidades. Para maior exatidão, daqui para a frente usaremos a expressão tiro reflexo no lugar de tiro instintivo. Na prática, tanto faz: ambas designam o tiro imediato, instantâneo, sem preparação consciente.
Por que o Tiro Reflexo é Superior ao Consciente?
Quase todas as artes são aprendidas por meio do desenvolvimento de atos reflexos. Quem aprende piano, por exemplo, começa com teoria. Com dificuldade, vai associando as notas escritas no papel com as teclas e pedais do instrumento. O início é difícil porque tudo tem de ser pensado. A música não sai boa. Aos poucos as mãos e os olhos vão automatizando a leitura e a execução das notas, e o aluno deixa de pensar nelas para concentrar-se no que realmente interessa: a música. Quando as mãos e os olhos trabalham sem pensar e a mente se concentra na música, o aluno se transforma num artista. Vejamos um exemplo inverso. Um lutador de boxe enfrenta o adversário numa trama complicadíssima de golpes, esquivas, defesas e passos, sem pensar. Mas se alguém lhe pedir que, enquanto luta, pense e descreva o que faz, é provável que seja nocauteado em poucos segundos. A interferência da mente atrapalha o desempenho. Esse princípio se aplica a todas as artes e habilidades. O controle da consciência só é bom na hora de aprender. Mas depois que a coisa foi aprendida, a consciência passa a atrapalhar.
Quem Muito Pensa, Não Faz
Não há necessidade de “pensar” tudo o que fazemos. Ao contrário, quando pensamos, as coisas mais simples se tornam difíceis e complicadas. O nosso sistema nervoso dispõe de incontáveis mecanismos automáticos. Muitos desses mecanismos automáticos já nascem conosco. É por isso que o organismo, com toda a sua complexidade, funciona sem a intervenção do pensamento. Mas não são apenas os órgãos internos que usam esses mecanismos. Já dissemos, por exemplo, que todos temos habilidades naturais, que nossos antepassados usavam na caça e na guerra. Elas fazem parte da nossa natureza. Como não são necessárias à vida civilizada, não chegam a se desenvolver devidamente. Mas estão aí, dentro de nós. Por isso, em várias artes, o aprendizado não consiste somente em aprender coisas novas, mas também em liberar habilidades inatas, deixando que atuem naturalmente. Isso significa fazer que essas habilidades funcionem sem a interferência da consciência. Já falamos sobre algumas: indicar um objeto com o dedo, calcular sua posição, alcançá-lo com a mão ou com o pé, atingi-lo com uma pedra ou um pau, etc. Essas habilidades são utilizadas no futebol. Os jogadores nada fazem senão estimar, continua e rapidamente, posições, ângulos, trajetórias, impulsos e sincronizações. Tudo sem pensar. Sua mente se concentra em prever o que o adversário vai fazer, em agir em conjunto com o time, em usar a malícia nas jogadas, etc. Em resumo, sua mente se concentra em ganhar o jogo. A mesma coisa se aplica ao tiro. O método israelense é inteiramente voltado para ganhar o jogo.
Ganhando o Jogo
Quando se empunha uma arma de fogo com a mente sintonizada nas instruções, num estande de tiro, com o objetivo de atingir o alvo e fazer o máximo de pontos, pratica-se o tiro consciente. Geralmente os praticantes do tiro consciente dividem sua habilidade em departamentos separados. Aprendem a atirar com perfeição, marcando o máximo de pontos. Essa é uma habilidade. Aprendem também a sacar com rapidez. Outra habilidade. Aprendem a atirar em alvos móveis ou em silhuetas humanas. Mais uma habilidade. Aprendem a posição correta das pernas. Nova habilidade. E assim por diante. O tiro, enfim, passa a ser uma soma de habilidades. Nas situações da vida real, o atirador consciente junta as várias habilidades de acordo com as circunstâncias, e assim executa sua missão. A missão será tanto melhor executada quanto mais fielmente o atirador seguir as regras aprendidas quanto à arma, à posição, ao tiro e aos alvos. O tiro reflexo é diferente. Nele não há habilidades separadas. Desde o início o aluno aprende a esquecer os alvos com círculos concêntricos e a pensar sempre e unicamente em atacantes vivos, rápidos, traiçoeiros, armados e mortíferos. Não existe a hipótese de, por exemplo, sacar rapidamente e atirar mal; ou sacar mal e atirar bem; ou ser lento e ter ótima pontaria; ou qualquer outra combinação desse tipo. Tudo é uma coisa só, e o objetivo único é neutralizar o perigo e proteger vidas. O tiro reflexo, portanto, é um todo indivisível. Tomar posição, sacar, carregar, apontar, disparar, tudo se aprende junto. Não há nenhuma habilidade separada. Tudo tem de ser feito sem pensar. E nisso está o ponto mais forte do tiro reflexo. É possível desenvolver as habilidades naturais do ser humano de modo que, no próprio ato de tomar posição, sacar e carregar a arma, os braços, as mãos e os olhos automaticamente se alinhem e focalizem precisamente o alvo. A observação da natureza ensina muito sobre esses reflexos. Basta ver, por exemplo, as fotos de um leão em três situações diferentes: calmo, acuado ou caçando. Na primeira, tem fisionomia serena. Acuado, demonstra ferocidade, dentes à mostra, rugindo com expressão de ódio e medo. Suas reações, nesse caso, são violentas e destrutivas. O leão acuado age contra si próprio, como se não “pensasse”. Mas quando caça, todo o seu corpo se concentra no ataque. Abaixa-se, rasteja no meio do capim, as narinas se dilatam e os olhos se fixam na presa. As garras permanecem recolhidas. No momento do bote, corre, salta, e no momento em que derruba a presa as garras se expõem e as presas se abrem para o golpe fatal. Tudo é feito com calma, rapidez e exatidão, apesar do tumulto. O cérebro do leão se fixa exclusivamente na presa; seu corpo, suas garras, seus dentes, tudo funciona automaticamente, para cumprir a ordem do cérebro: dominar a presa. O método Bitahon procura fazer com que o indivíduo, quando em perigo, passe imediatamente da situação de calma para a de caçador, sem passar pela reação do leão acuado.
O Método Bitahon
Dissemos que no tiro reflexo o atirador não pensa. É verdade: ele não pensa no saque, na posição de tiro, na arma, nem no próprio tiro. Tudo é automatizado. Mas o atirador pensa, sim, no agressor, na defesa de suas possíveis vítimas e na segurança. Sua mente, totalmente livre, concentra-se somente no que interessa. Uma sessão de instrução pelo método Bitahon é diferente do convencional. Muitas vezes os alunos, especialmente os que tiveram treinamento por outros métodos, têm de desaprender o que sabem para em seguida descobrir e liberar sua real natureza. O método consiste em desenvolver uma série de conjuntos de atos reflexos. Os atos reflexos, como se sabe, são mecanismos atuados por algum acontecimento. Um exemplo. O susto é um dos mais conhecidos acontecimentos que acionam atos reflexos. Quando levam sustos, as pessoas reagem de modos diferentes. Alguns se encolhem, outros gritam, outros entram em pânico. Para a maioria, a reação termina aí. Ao levar um susto, reagem de modo absurdo e em seguida ficam confusas, ou “cristalizadas”, sem saber o que fazer. Quando agem, fazem-no como no exemplo do leão: com medo e com raiva. Nessa situação, se estiverem armadas, transformam-se em grande perigo para si próprias e para pessoas inocentes. Quem não sabe reagir em caso de pânico não deve andar armado. Os bandidos conhecem bem o valor do susto. Quando assaltam, abordam a vítima aos gritos, com a mais brutal violência. Seu objetivo é provocar o pavor, o pânico e a imobilidade da vítima. Às vezes a vítima em pânico reage com medo ou raiva. Esse tipo de reação, já vimos, é desastrosa e geralmente termina com a morte da vítima ou de inocentes. Em todos os casos verifica-se a mesma verdade: não há tempo para pensar. A única coisa que funciona são os reflexos. Quando os reflexos são errados, tudo dá errado. Mas quando é devidamente preparado, o indivíduo reage corretamente. Reagir corretamente em emergências nem sempre significa revidar ou escapar ao assalto. Significa sair com vida. Quem sabe reagir também sabe quando não deve reagir. O método Bitahon procura desenvolver a capacidade de reagir corretamente, que muitas vezes consiste em não reagir. Isso é o que se chama reação correta. O método Bitahon explora as características da natureza humana para inculcar complexos de reações instantâneas acionadas por certos eventos – um ataque inesperado, um perigo pressentido, etc. – de modo que a pessoa adquira capacidade de se defender eficazmente nas piores circunstâncias. É o que dissemos no exemplo do leão: em caso de susto, passar automaticamente da calma à atitude do caçador, sem entrar em pânico. Esses complexos de reações instantâneas evidentemente não têm nada a ver com tiro ao alvo ou outras reações conscientes. São mecanismos que incluem todo o processo de tiro, desde o saque até a efetiva neutralização do perigo. O tiro reflexo permite reações instantâneas, efetivas e seguras contra atacantes. Seguras? Será que o tiro reflexo, que é reação instantânea, quase automática, não é perigoso? Quem age “sem pensar” não pode cometer erros fatais? Eis uma boa pergunta.
Segurança Também é Reflexo
Evidentemente os complexos de reações instantâneas compreendem também as precauções de segurança. No método Bitahon a segurança não é aprendida teoricamente. É inculcada junto com a prática de tiro. A segurança, no método Bitahon, é também ato reflexo. Quando um atirador Bitahon age sem pensar, sempre age com absoluta segurança, porque a segurança é parte de seus reflexos. Não precisa lembrar-se de regras porque elas estão na sua natureza. Não precisa pensar para praticar segurança. Na verdade, o atirador Bitahon reage ao contrário. Para cumprir as regras de segurança, apenas age. Mas se quiser voluntariamente violar alguma regra de segurança, terá de pensar e agir propositadamente. No método Bitahon só há reflexos para fazer o certo, nunca para o errado. Quando se fala em segurança, fala-se de absoluta segurança. Nada é deixado ao acaso. Tudo, até as coisas mais evidentes, é verificado e reverificado. Nada se presume, nada se adivinha, não se confia em nada que não seja absolutamente certo.
O Método Bitahon é Fácil de Aprender
Tudo o que foi dito deixa uma pergunta no ar. Será que o método Bitahon não é alguma nova modalidade de arte marcial, dessas que exigem longo aprendizado? Não. Surpreendentemente, o médodo Bitahon é fácil, direto e rápido. Poucas horas de instrução e algumas dezenas de tiros são suficientes para transformar qualquer pessoa em bom atirador, capaz de enfrentar situações de perigo real. Não há necessidade de grandes quantidades de munição porque boa parte do treinamento é feita “a seco”, com a arma descarregada; pois, como dissemos, o tiro não é senão a finalização de um conjunto de ações mais importantes que o próprio tiro, e é esse conjunto que tem de ser aprendido, não apenas o tiro. Atirar fora desse contexto – ou seja, atirar somente pelo tiro – não tem nenhuma utilidade e é até prejudicial no método Bitahon. Na verdade, pessoas que nunca lidaram com armas aprendem com facilidade porque não estão acostumadas com outros métodos, portanto não têm de “desaprender” nada antes de dominar o método Bitahon. Nem podia ser diferente. Primeiro, porque o método Bitahon é o mais natural de todos, já que se baseia em reflexos existentes em todas as pessoas. Segundo, porque é usado indistintamente para treinar militares, policiais ou civis. E quando se fala em civis, isso inclui idosos, estudantes, donas de casa – todo o tipo de pessoas comuns. Em Israel, onde o perigo não poupa ninguém, o método Bitahon é usado tanto para o treinamento de agentes profissionais como de civis que nunca pegaram uma arma na mão.
Mudando de Idéia
A filosofia do método Bitahon, como vimos, é simples. E a prática também é simples, mas só pode ser compreendida na própria prática. Seria difícil explicá-la no papel. O método tem sido aplicado por instrutores israelenses em muitos países, no treinamento de policiais, militares e civis. Em todos aconteciam surpresas. Muitas das noções mais arraigadas dos alunos caíam por terra quando reaprendiam a atirar pelo método Bitahon. Vejamos algumas delas. A maioria dos atiradores convencionais usa a posição enviesada (“weaver”), considerada mais segura. O método Bitahon considera essa posição extremamente insegura. Em muitos países, policiais e militares aprendem a portar a pistola de dupla ação carregada e travada, acreditando que isso permite reações mais rápidas. Na prática, esse método tem causado mortes de agentes da lei. O método Bitahon aconselha pistolas alimentadas e descarregadas, nunca travadas. Muitos acreditam que a dupla ação é melhor. O método Bitahon prefere usar somente a ação simples por ser mais rápida e eficaz. Entre policiais, especialmente nos Estados Unidos, os projéteis de ponta oca são considerados mais efetivos. O método Bitahon só admite o uso desse tipo de projétil em situações especialíssimas. Munição comum, jaquetada, é mais eficaz. Há numerosos profissionais que gostam de munições de alta potência do tipo “+P”. O método Bitahon condena essas munições em quaisquer circunstâncias. Há dezenas de outros mitos e ilusões que mudam no aprendizado do método Bitahon. Não é de surpreender: o método foi desenvolvido exatamente para corrigir e aperfeiçoar o que existia até então. É lógico que apresente tantas inovações técnicas. Mas o método Bitahon não somente faz o aluno mudar de idéia: faz algo mais profundo, que é “mudar de idéia na vida”. Que significa “mudar de idéia na vida”?
Mudando de Idéia na Vida
Essa antiga e curiosa expressão era usada pelos policiais paulistas da década de 1950. Quando um bandido, devidamente assustado pela ação policial, desistia de sua vida criminosa ou sumia para sempre da cidade, dizia-se que havia “mudado de idéia na vida”. Era mais que simplesmente mudar de idéia. Quem “mudava de idéia na vida” ganhava nova personalidade, diferente e melhor que a anterior. Alguém levou a expressão para Israel, onde os que falam português, achando-a engraçada, a adotaram. Usam-na para descrever certos treinamentos do exército, tão envolventes que os recrutas “mudam de idéia na vida”. Dizem que o método Bitahon faz o aluno “mudar de idéia na vida”. É verdade. Além de ensinar a atirar, o método Bitahon tem a característica adicional de reforçar os aspectos positivos do aluno a tal ponto que, em muitos casos, ajuda a fortalecer sua personalidade. Ao desenvolver reflexos de auto-defesa e de defesa de vidas inocentes contra o mal, o método Bitahon desperta aspectos dormentes no espírito do aluno. Os instintos do caçador, do predador atento e preciso, latentes em todo o ser humano, vêm à tona. Com eles, vêm também à tona os reflexos de proteção e ajuda às vítimas. Surge uma nova natureza, forte, generosa e solidária. O efeito salutar da auto-confiança na personalidade dos alunos não é exclusivo do método Bitahon. Todas as artes marciais, quando aprendidas de verdade, têm efeito semelhante. Mas na defesa contra o crime armado, nenhuma arte marcial é tão poderosa quanto o tiro. No mundo de hoje as pessoas de bem vivem com medo. O crime domina as ruas. A polícia e a justiça não têm meios de proteger as vítimas. Muitos se conformam com a fatalidade, e aguardam o dia em que serão as próximas vítimas de assaltos e violências. Essa atitude de impotência e resignação invade todas as dimensões da vida. As casas se cercam de grades e alarmes. Cada saída à rua é uma aventura perigosa. O mundo parece território inimigo, onde o prazer e a liberdade de viver já não existem. O método Bitahon, evidentemente, não resolve esses problemas. Mas seu aprendizado ajuda as pessoas a se sentirem mais seguras, não só para enfrentar, mas principalmente para evitar o mal. Baseado inteiramente em situações da vida real, o método ensina a avaliar os riscos e as possibilidades em cada enfrentamento. O objetivo maior é sempre evitar o confronto, evitar a violência, evitar ao máximo o uso da arma. Não é aprendizado de valentia ou de temeridade, mas de prudência, bom senso e equilíbrio. O objetivo é sempre proteger vidas. Para o método Bitahon, o uso da arma é sempre a exceção. A regra é não usá-la. O bom aluno é o que consegue sair das situações de perigo sem sequer exibir a arma. Ela é considerada como o último recurso, que só se usa quando o confronto é inevitável. Não há coisa mais perigosa que a pessoa armada e assustada. Afastando completamente da mente do aluno todas as falsas concepções de bravura, e dando-lhe, ao mesmo tempo, a capacidade de enfrentar o perigo nas situações extremas, o método Bitahon ajuda a ter serenidade. Só essa atitude permite proteger vidas e dar segurança a si próprio e aos outros. Uma coisa é certa: a imensa maioria dos criminosos violentos tem baixa inteligência e nenhum preparo intelectual. Embora lidem com armas, quase nenhum sabe atirar. Esse é um fato. Qualquer observador profissional pode afirmá-lo com certeza. A vantagem dos bandidos não está na sua capacidade como combatentes – que é baixíssima – mas na sua ousadia, na traição e na covardia com que escolhem as vítimas. É possível enfrentá-los com êxito. Para isso, é preciso que as vítimas “mudem de idéia na vida”. Que aprendam a se defender. Esse é o primeiro passo. Indivíduos que sabem se defender podem formar coletividades capazes de se defender.
Credito Bitahon cursos.