sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Sobre a vida de um policial

Um texto escrito por um cidadão comum, sobre a vida de um policial – muito interessante a abordagem feita
28

fev
Profissão: POLICIAL (por um paisano)
A vida de um policial honesto

Cada vez mais ouvimos pessoas reclamando da polícia, e dizendo que policiais não prestam esão corruptos. Foi exatamente esse motivo que me trouxe a escrever este artigo.
É claro que existem aqueles que não merecem nosso respeito, aqueles que deveriam estar atrás das grades e não do lado de fora. Mas meu objetivo não é defender ou argumentar algo a respeito desses que não honram seu trabalho, mas sim aos que dão a vida por ele. A questão é que a polícia é mal vista por causa desses policiais sem caráter. Corrupção há em todo lugar. Do mesmo modo que existem policiais corruptos, existem juízes, advogados, políticos, empresários corruptos! Não podemos generalizar e crucificar todos, por causa de alguns deles. Deve doer muito a um homem que ao trabalhar, encara troca de tiros, fica frente a frente aos marginais , arrisca a própria vida para salvar a de um desconhecido, e que, depois de todo esse trabalho prestado à sociedade por um salário “insignificante”, acaba ouvindo das próprias pessoas que ele se arriscou para defender, que “policial não vale nada e são todos corruptos”.
Nas ocorrências policiais, enquanto corremos para o lado oposto, fugindo dos marginais armados, a polícia “dá a cara a bater” encarando tiros como se fossem projéteis de algodão lançados em direção a suas cabeças.
Se um policial prende um criminoso, ele tem grandes chances de encontrar o mesmo indivíduo andando livremente pelas ruas em menos de seis meses.
Além do risco que o policial corre em sua profissão, ainda existe o risco de sofrer um acidente, pois as condições das viaturas são precárias. Possuem pneus carecas, amortecedores estourados; isso quando não ficam encostadas por falta de combustível. Fora tudo isso, se o policial bater a viatura, é de sua obrigação arcar com as despesas de manutenção do veiculo; ou seja, se o policial andar em alta velocidade para chegar nas ocorrências, ele corre grande risco de bater devido às más condições do veículo, e se ele não dirigir em alta velocidade, não chega a tempo. Lembrando que não há coletes à prova de balas para todos e os armamentos também não são como deveriam.
Um membro da polícia não pode atirar primeiro em um bandido. Por incrível que pareça o bandido tem que atirar primeiro para depois o policial revidar –– isso se o tiro não acertar, pois se atirar primeiro, corre risco de perder o emprego, e até ser preso. Está cada vez mais difícil para o policial trabalhar. Em uma profissão de altíssimo risco, com essas condições precárias de trabalho, torna-se praticamente impossível de o policial cumprir suas tarefas.
O policial brasileiro não tem preparo para trabalhar. O Estado não investe em treinamentos, cursos de defesa pessoal, de direção, de prática de tiro, simulações de ocorrências. Os cursos que alguns dos policiais brasileiros têm, são pagos do próprio bolso. O salário já é pequeno, e ainda eles precisam “pagar para trabalhar”.
Aliás, surge aí um outro grande problema. Um policial trabalha por um salário muito medíocre. Suas vidas valem menos do que R$ 1.500. Menos que um carro, uma moto, um computador.
Na Inglaterra a polícia tem um dos mais altos salários do país e o Estado investe em cada policial aproximadamente US$ 10 mil em cursos táticos operacionais e preparatórios.
Nos Estados Unidos os “policiais de rua” não invadem casas. Os que entram nas casas dos criminosos são os oficiais da S.W.A.T, grupo que tem um treinamento muito intenso e adequado para esse tipo de situação. Os “policiais de rua” entram somente depois da casa estar totalmente tomada pelos oficiais e membros da S.W.A.T. No Brasil, mesmo sem preparo e condições, os policiais entram em favelas, matas, canaviais, barracos, casas e pegam o bandido “no dente”. Se formos analisar profundamente, o policial brasileiro é o que mais faz e menos ganha. Ele só precisa de incentivo por parte do Estado e da sociedade.
A polícia é algo que deveria ser respeitado por todos. Há alguns anos o policial tinha orgulho de estar na corporação, e se sentia honrado ao se identificar como homem da lei. Hoje, ele tem medo e até esconde a profissão, pois está se tornando a coisa mais normal no mundo o bandido tirar sua vida.
O Estado deveria dar mais condições aos integrantes da polícia. Em que local um policial, ganhando menos de R$ 1.500 vai morar em uma cidade como Rio de Janeiro? A resposta é obvia; no lugar que atualmente eles moram; nas favelas e morros. Agora imaginemos um policial morando no meio da favela da Rocinha. Ele tem duas opções; contribuir com o mundo do crime ou ser executado junto à sua família pelos traficantes locais.
Muitas pessoas defendem a atitude dos bandidos, dizendo que eles não têm opções e por isso entram para a criminalidade. Porém nunca vi alguém defender um policial dizendo que ele não tinha escolha e foi obrigado a entrar no esquema de corrupção para não ser morto. Um ladrão faz barbaridades, coisas absurdas e ainda existem aqueles que vão defendê-los, pois eles são “seres humanos”. Porém se um policial, ergue a voz com um marginal ele está cometendo abuso de autoridade; se ele der um tapa então…está desempregado. Claro que policiais corruptos não devem ficar impunes, porém a culpa de ter entrado nesse caminho errado não é deles. Se alguém é culpado nisso, este alguém é o Estado que não dá condições adequadas de trabalho a esses homens que são como super-heróis da população.
O primeiro passo para uma polícia digna, seria o Estado dar uma “peneirada” e expulsar aqueles desonestos que não merecem ocupar o cargo. Costumo dizer que para entrar na polícia, tem que gostar. Polícia não é lugar para ganhar dinheiro e ficar rico.
Outra coisa que atrapalha muito no dia a dia dos policiais é a depressão e o estresse, causados pela profissão. Nas profissões, as tensões e preocupações do trabalho terminam quando as pessoas chegam em casa. O policial não tem esse privilégio, pois ele não tem sossego, não tem descanso. Se um policial vai a uma lanchonete com a família, está arriscado a tomar um tiro. Com o tempo, seu psicológico fica abalado. Imaginem um ser humano, batendo de frente contra o crime, preocupado com as ameaças que sofre por telefone ou pensando em seus filhos que estão na escola e podem ser alvo de bandidos afim de vingança! É possível trabalhar assim?
É muito difícil para uma família, ver um pai saindo de manhãzinha para trabalhar, não sabendo se à noite ele estará de volta para jantar.

Marcelo de Oliveira é estudante de Direito Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba)

Nenhum comentário:

Postar um comentário