SABERES PARA O ENSINO POLICIAL
Aquele que exerce a docência, não pode deixar de ler, e principalmente observar os ensinamentos de Paulo Freire.
Em um de seus livros, ?Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa?, várias são as exigências do ensinar. A docência não pode ser realizada de forma empírica. È verdade, que: ?quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.? Entretanto, é fundamental o que Paulo Freire descreve no primeiro capítulo do livro citado.
Como exerço a docência desde 1997, na disciplina de Uso da Arma de Fogo, em diversos cursos da Brigada Militar, de diferentes níveis, destaco com grande importância e proponho para discussão, o seguinte aspecto para o ensino policial:
?- Ensinar exige a corporificação das palavras pelo exemplo.?
O conhecimento do manejo da arma, as munições, os fundamentos do tiro, a balística e outros, pouco ou quase nada adiantarão se não forem conectados a um exemplo. Ou seja, todo este conhecimento deve ser aliado com a simulação ao atendimento de uma ocorrência policial, bem como realizar análise de ocorrências policiais já atendidas.
Nesta simulação de atendimento de ocorrência policial, além da utilização da arma de fogo, irá se abordar: a observação (visão periférica, abordagem pessoal, armas impróprias...), utilização de proteção (progressão no terreno utilizando as construções ou obstáculos naturais...) e por fim, a decisão do uso da arma de fogo, se necessário for.
Até o policial decidir na utilização da arma de fogo, passará por outras áreas do conhecimento (emprego da sua voz, defesa pessoal, utilização do bastão policial, emprego de munição química, emprego de munição menos letal, ...), até chegar na utilização da arma de fogo.
Há mais de quinze anos atrás, quando ingressei na Brigada Militar, a disciplina de uso da arma de fogo, tinha o enfoque para o tiro de precisão, e não para o tiro policial. Até a disciplina tinha outro nome, que era: Armamento e Tiro. Nas instruções de Armamento e Tiro, o principal era acertar no centro do alvo (círculos concêntricos onde o menor círculo tem a maior pontuação). Na disciplina de Armamento e Tiro, as simulações de atendimento de ocorrência, não existiam, sendo assim, as demais áreas de conhecimento que anteriormente citei, não conectavam-se entre si (multidisciplinariedade e transversalidade).
Hoje em dia, felizmente, a instrução de uso da arma de fogo, prevê em seu conteúdo programático, a decisão de tiro, que somente pode ser realizada através da simulação ao atendimento de ocorrência policial. Os alvos, agora figuras humanas, são atiráveis ou não. Ao corpo discente, além dos exemplos, lhe é proporcionado a proximidade com a realidade. Colabora também com isto, a recente aquisição de um simulador de tiro virtual, onde o aluno interage com uma situação que lhe é apresentada em um telão. Após, o próprio equipamento permite que seja realizada uma revisão do atendimento da ocorrência policial, inclusive demonstrando o local onde foram realizados os disparos de arma de fogo, caso seja necessário.
Neste breve comentário, a prática da teoria é inserida no contexto da realidade em que o futuro policial irá atuar. Na certeza de que todos nós, com diferentes saberes, podemos contribuir para a formação do policial, o que mais podemos fazer para ensinar, sensibilizar o aluno, de que o emprego da arma de fogo deve ser encarado como o último recurso a ser utilizado?
Abraços a todos, espero colaborações..........
José Carlos Pacheco Ferreira